Um calendário que vai além do tempo
Enquanto no Ocidente contamos os dias com base no calendário gregoriano, os antigos povos da Mesoamérica utilizavam sistemas muito mais complexos. Entre eles, o calendário asteca se destaca por unir tempo, espiritualidade e destino. Mais do que uma ferramenta para marcar datas, ele guiava rituais, cultos e decisões sociais, e permanece até hoje como um dos legados mais impressionantes da civilização asteca.

Como funcionava o calendário asteca?
O calendário asteca, também chamado de tonalpohualli e xiuhpohualli, era composto por dois sistemas distintos que se entrelaçavam:
Tonalpohualli – o calendário sagrado de 260 dias
- Composto por 20 signos diários e 13 números, formando 260 combinações possíveis.
- Cada combinação representava uma energia espiritual, influenciada por um deus específico.
- Era usado para prever o destino de pessoas, momentos favoráveis e rituais religiosos.
- Semelhante a um horóscopo, era consultado por sacerdotes.
Xiuhpohualli – o calendário solar de 365 dias
- Dividido em 18 meses de 20 dias cada, mais 5 dias extras chamados de “nemontemi”, considerados de azar.
- Relacionava-se com as estações, agricultura e festividades.
- Cada mês era associado a um deus e a um ciclo de rituais.
Esses dois calendários funcionavam simultaneamente, criando um ciclo de 52 anos chamado de “século asteca”. Ao final desse ciclo, grandes cerimônias de renovação eram realizadas.
A Pedra do Sol: símbolo e mistério
O famoso monólito conhecido como Pedra do Sol é muitas vezes confundido com um calendário. De fato, ela representa elementos do calendário asteca, mas não é um calendário propriamente dito.
- Mede 3,58 metros de diâmetro e pesa cerca de 24 toneladas.
- Foi encontrada em 1790 na Cidade do México.
- Representa Tonatiuh, o deus do Sol, ao centro.
- Ao redor, estão representados os ciclos solares e os cinco sóis (eras anteriores da humanidade segundo a cosmovisão asteca).
Essa pedra era usada em rituais religiosos, e sua simbologia expressa a profunda conexão entre tempo, divindade e sacrifício.

Um sistema cíclico, não linear
Ao contrário da concepção linear de tempo predominante nas culturas ocidentais — onde os acontecimentos seguem uma linha reta e irreversível — o calendário asteca era baseado em ciclos. Para os astecas, o tempo não avançava rumo ao desconhecido: ele retornava, se repetia, se renovava. Essa ideia de tempo circular era fundamental para sua visão de mundo, religião e organização social.
Cada ciclo tinha um fim e um recomeço, como as estações do ano ou os movimentos do céu. O universo, para eles, já havia passado por outras eras (os chamados “Sóis anteriores”) e poderia ser destruído e recriado novamente. Isso influenciava não apenas os grandes rituais e cerimônias, mas também o cotidiano: datas de nascimento determinavam características pessoais e o futuro de cada indivíduo.
O tempo, portanto, era um ente sagrado, vivo, carregado de significado. O calendário asteca não apenas contava os dias — ele explicava o próprio destino.
O calendário como ferramenta espiritual
Para os astecas, o tempo não era apenas uma medida cronológica — era uma expressão da vontade divina. No sistema sagrado do calendário asteca, chamado tonalpohualli, cada um dos 260 dias era representado por uma combinação específica entre um número e um signo, ambos regidos por forças espirituais e deuses distintos.
Essas combinações influenciavam diretamente os eventos da vida cotidiana. Os sacerdotes, considerados intérpretes do tempo, consultavam o calendário para revelar presságios e orientar decisões importantes. O dia do nascimento de uma criança, por exemplo, não era apenas uma data, mas uma definição de seu destino, personalidade e papel espiritual.
Guerras, casamentos, colheitas e cerimônias religiosas só eram realizados após uma análise minuciosa do calendário. Os dias considerados desfavoráveis eram evitados a todo custo, enquanto os dias sagrados recebiam rituais específicos para atrair equilíbrio e bênçãos.
Assim, o calendário asteca era uma verdadeira ponte entre o céu e a terra — um instrumento de conexão entre o povo e os deuses, moldando o fluxo da vida espiritual, política e social.
Influências e semelhanças com outras culturas
O calendário asteca foi fortemente influenciado por civilizações anteriores como os maias e os zapotecas, que também utilizavam calendários duplos de 260 e 365 dias.
Diferenças:
- Os maias tinham uma contagem adicional chamada Longa Contagem, usada para medir eras históricas.
- Os astecas focavam mais no uso prático e ritualístico do tempo no cotidiano.
Mesmo assim, todos esses sistemas compartilham uma visão sagrada do tempo e uma grande precisão astronômica.
Fatos curiosos sobre o calendário asteca
- O nome “asteca” não era usado pelos próprios povos: eles se chamavam mexicas.
- Os 5 dias extras do ano eram considerados perigosos e evitava-se sair de casa.
- O ciclo de 52 anos era encerrado com a cerimônia do Fogo Novo, onde se apagavam todas as chamas e se aguardava o renascimento do Sol.
- O calendário ainda influencia tradições indígenas no México até hoje.
A importância do calendário asteca nos dias atuais
Muito além de uma peça de museu ou uma curiosidade histórica, o calendário asteca é uma janela para entender como os antigos povos mesoamericanos compreendiam o universo.
Ele revela uma sociedade profundamente conectada com o céu, os ritmos da natureza e o divino — e ainda nos ensina que o tempo pode ser muito mais do que números em um relógio.
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Referências do texto e das imagens
O calendário asteca: estrutura e simbolismo
Fonte: Britannica
La Piedra del Sol: história e significado do calendário asteca
Fonte: Lolomercadito
Calendário asteca: uma explicação para estudantes
Fonte: Britannica
O calendário asteca: ciclos do tempo e significado ritual
Fonte: World History Encyclopedia