A cidade submersa de Dwarka
A cidade submersa de Dwarka é uma das mais enigmáticas da história indiana e tem fascinado arqueólogos, historiadores e devotos por séculos. Mencionada em textos sagrados como o Mahabharata e o Bhagavata Purana, ela é tida como a capital do reino de Krishna, uma das figuras centrais do hinduísmo. Segundo a mitologia, Krishna mandou construir Dwarka para proteger seu povo das guerras constantes com outros reis. Com palácios de ouro, jardins exuberantes e um porto movimentado, a cidade teria sido erguida em um único dia — um feito divino para um líder considerado semideus.
A lenda conta que, após a morte de Krishna, a cidade submersa de Dwarka foi tragada pelo oceano. Alguns acreditam que foi um castigo divino, enquanto outros veem o acontecimento como o cumprimento de uma profecia antiga. Durante muito tempo, essa narrativa foi considerada apenas parte da mitologia indiana — até que descobertas arqueológicas colocaram essa história sob uma nova luz.
A descoberta arqueológica
No início dos anos 2000, uma equipe de cientistas do National Institute of Ocean Technology (NIOT) e da Archaeological Survey of India (ASI) iniciou um estudo geológico e arqueológico no Golfo de Khambhat, na costa oeste da Índia. Utilizando tecnologia sonar, os pesquisadores identificaram padrões geométricos no fundo do mar que sugeriam a presença de estruturas feitas pelo homem.
O que foi encontrado?
- Ruínas retangulares e lineares que lembram muros e fundações.
- Formações semelhantes a portões, estradas e plataformas.
- Artefatos como ferramentas de pedra, cerâmica, ossos humanos e dentes.
- Fragmentos de carvão vegetal que, ao serem datados com carbono-14, indicaram idade aproximada de 9.000 anos.
Esses achados são extraordinários porque colocam a existência de uma civilização urbana na Índia milhares de anos antes do florescimento do Vale do Indo — até então considerado o berço da civilização indiana. Se confirmadas como construções humanas, as estruturas de Dwarka submersa podem reescrever parte da história do subcontinente.

Dwarka era real?
A grande questão permanece: as ruínas encontradas seriam realmente a lendária cidade de Krishna? As opiniões são divergentes, e o debate segue aberto.
Civilização perdida
Uma corrente defende que o que foi descoberto faz parte de uma civilização altamente organizada que existiu no final da última Era Glacial, quando os níveis dos oceanos subiram e engoliram parte do litoral. Isso explicaria tanto o urbanismo sofisticado quanto a submersão.
Cidade de Krishna
Para os devotos hindus, a descoberta é uma confirmação daquilo que sempre acreditaram: a existência literal de Dwarka como a morada de Krishna. A localização próxima ao atual templo de Dwarka, construído há séculos na costa de Gujarat, reforça ainda mais essa crença.
Formações naturais
Outros especialistas sugerem que as estruturas podem ser formações naturais, como rochas sedimentares moldadas pela erosão. Alegam que, sem escavações mais detalhadas, não se pode afirmar que sejam obras humanas.
Falta de escavações profundas
As escavações subaquáticas são complexas e custosas. Muitos dos sítios estão a mais de 30 metros de profundidade e cobertos por sedimentos. Além disso, correntes marítimas fortes dificultam o trabalho dos mergulhadores. Isso limita a obtenção de provas definitivas e reforça o ceticismo de parte da comunidade científica.
A cidade de Dwarka atual
A cidade moderna de Dwarka, localizada no estado de Gujarat, é considerada por muitos o local mais próximo da lendária cidade submersa. É um dos sete locais mais sagrados do hinduísmo (Sapta Puri) e abriga o famoso Templo de Dwarkadhish, dedicado a Krishna.
Curiosamente, relatos antigos descrevem a cidade como tendo sido construída em uma ilha, o que coincide com registros geológicos da região, que mostram alterações no nível do mar e erosão costeira ao longo dos milênios.
Avanços tecnológicos podem mudar tudo
Com o uso de novas tecnologias como LIDAR submarino, drones aquáticos e escaneamento em 3D, pesquisadores acreditam que nos próximos anos será possível mapear com maior precisão os sítios arqueológicos submersos. Isso pode trazer respostas mais concretas sobre a origem e a natureza das ruínas no Golfo de Khambhat.
Além disso, parcerias com instituições internacionais estão sendo discutidas para permitir estudos mais aprofundados com equipamentos avançados. O tema também tem despertado o interesse de universidades e centros de pesquisa em arqueologia marinha de vários países.
O impacto cultural e científico
Na ciência
As possíveis ruínas de Dwarka desafiam os paradigmas atuais sobre a história da civilização humana. Elas sugerem que sociedades complexas podem ter existido em regiões costeiras que hoje estão submersas. Isso estimula novas teorias sobre rotas migratórias, surgimento de centros urbanos e o impacto das mudanças climáticas no passado.
Também incentiva investigações em outras áreas do mundo onde há indícios de civilizações costeiras perdidas — como a região do mar do Norte, o Caribe e o sudeste asiático.
Na cultura
Para os indianos, a possibilidade de que Dwarka seja real fortalece a identidade cultural e religiosa do país. O local atrai milhares de peregrinos e turistas todos os anos, e o debate sobre sua origem inspira livros, documentários e filmes. A interseção entre mito e ciência alimenta a imaginação popular e valoriza o patrimônio histórico da Índia.
Curiosidades sobre a lenda de Dwarka
1. Krishna teria usado poderes sobrenaturais para erguer a cidade
Alguns textos sagrados descrevem Krishna invocando os deuses da natureza e arquitetos celestiais para construir Dwarka em um único dia. A cidade teria 900 mil palácios, todos feitos com pedras preciosas, ouro e prata.
2. Há registros de mais de uma submersão
Além da versão mitológica do afundamento pós-morte de Krishna, há relatos de que a cidade teria sido reconstruída várias vezes e afundado por causas naturais, como terremotos ou tsunamis.
3. Dwarka pode ter influenciado a lenda da Atlântida
Alguns estudiosos especulam que a fama da cidade submersa pode ter chegado ao Ocidente por meio de relatos de viajantes ou trocas culturais antigas, influenciando a lenda grega de Atlântida.
Outras cidades submersas misteriosas
Atlântida
Descrita por Platão como uma civilização avançada que desapareceu em um cataclismo, Atlântida permanece como o exemplo mais famoso de cidade perdida. Nenhuma evidência concreta foi encontrada, mas teorias abundam, ligando-a ao Mediterrâneo, Caribe ou até à Antártida.
Yonaguni (Japão)
Nas águas próximas à ilha de Yonaguni, foram descobertas formações de pedra com ângulos retos e degraus. Alguns acreditam que são ruínas de uma cidade submersa japonesa com milhares de anos, embora a origem natural ainda seja debatida.
Heracleion (Egito)
Também conhecida como Thonis, essa cidade egípcia ficou submersa no delta do Nilo por mais de mil anos antes de ser redescoberta em 2000. Estátuas, templos e moedas foram resgatados intactos, comprovando sua existência e importância na Antiguidade.
Conclusão
O mito de Dwarka pode estar mais próximo da realidade do que se imaginava. Com os avanços em tecnologias de exploração submarina, o que antes era considerado apenas uma lenda, hoje é alvo de investigações científicas sérias. Resta saber se o tempo revelará mais provas de que Dwarka, a cidade de Krishna, realmente existiu. Se confirmada, essa descoberta pode alterar para sempre o que sabemos sobre as civilizações antigas da humanidade.
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Referências
Descobertas arqueológicas no Golfo de Khambhat.
Fonte: Archaeological Survey of India
Estudos sobre civilizações submersas na Índia.
Fonte: National Institute of Oceanography – India
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