Usina de dessalinização: água do mar que se transforma em fonte de vida
A usina de dessalinização é uma das grandes promessas tecnológicas para o futuro da água potável. A água cobre mais de 70% da superfície do planeta, mas apenas 2,5% é doce — e grande parte está inacessível, em geleiras ou aquíferos profundos. Isso cria um paradoxo: vivemos em um planeta azul, mas a água potável é um recurso escasso, especialmente em regiões áridas, insulares ou densamente povoadas.
Com o agravamento das mudanças climáticas, estiagens prolongadas e aumento da demanda urbana, a busca por fontes alternativas de abastecimento tornou-se prioridade em vários países. É nesse cenário que entra a tecnologia de dessalinização, que permite transformar água do mar — abundantemente disponível — em água adequada para o consumo humano, irrigação e uso industrial.
Em 2025, as usinas de dessalinização de última geração não são apenas mais eficientes, mas também mais sustentáveis, incorporando inteligência artificial, energias renováveis e sistemas de reaproveitamento energético. Neste artigo, você vai entender como essas usinas funcionam, quais são os desafios superados nos últimos anos e por que elas se tornaram peça-chave na segurança hídrica global.

O que é uma usina de dessalinização?
Uma usina de dessalinização é uma infraestrutura projetada para retirar os sais minerais, partículas e contaminantes presentes na água do mar ou de fontes salobras. A finalidade é produzir água potável, segura e limpa, apta para abastecimento doméstico, comercial e industrial. Embora existam diferentes métodos de dessalinização, a osmose reversa domina mais de 85% do mercado global.
A osmose reversa é um processo físico-químico em que a água salgada é forçada, sob alta pressão, a atravessar membranas semipermeáveis. Essas membranas permitem a passagem de moléculas de água, mas bloqueiam sais, metais pesados, bactérias e outras impurezas. O resultado é água dessalinizada com alta pureza, que depois é ajustada para atingir o padrão ideal de consumo humano.
As primeiras usinas industriais surgiram entre os anos 1950 e 1960, mas eram extremamente caras e pouco eficientes. Com o avanço da ciência dos materiais, novas membranas, sistemas de filtragem e automação tornaram a tecnologia mais viável economicamente, especialmente para países que sofrem com escassez hídrica crônica.
Como funciona uma usina de dessalinização moderna
A operação de uma usina de dessalinização moderna envolve diversas etapas interligadas, cada uma com papel essencial na eficiência e qualidade final da água produzida.
1. Captação da água
O processo começa com a captação da água salgada, geralmente feita por tubulações localizadas a centenas de metros da costa. Essas tubulações são posicionadas em áreas de menor turbidez para evitar excesso de sedimentos e organismos vivos.
Sistemas de gradeamento impedem a entrada de detritos grandes e animais marinhos. Em alguns projetos modernos, a captação é feita por poços subterrâneos, que já filtram parte das impurezas naturalmente.
2. Pré-tratamento
Antes de ser submetida à osmose reversa, a água captada passa por um sistema de filtragem mecânica e química, conhecido como pré-tratamento. Essa fase remove sedimentos, microalgas, bactérias e óleos, evitando o entupimento e desgaste das membranas.
São usados filtros de areia, carvão ativado e microtelas, além de agentes químicos como floculantes e antincrustantes. Em usinas de alta performance, essa etapa é monitorada em tempo real por sensores inteligentes que ajustam os níveis automaticamente.
3. Osmose reversa
Essa é a etapa central do processo. Bombas de alta pressão (entre 60 e 80 bar) forçam a água a passar por membranas de polímero ou grafeno que retêm os sais e outras partículas dissolvidas.
Cada membrana pode remover até 99,7% dos sais presentes na água. Em instalações de última geração, módulos de membranas são organizados em linhas paralelas para aumentar a vazão e reduzir o consumo energético por metro cúbico processado.
O que sobra é dividido em duas correntes: a água dessalinizada, que segue para o pós-tratamento, e o concentrado salino, ou salmoura, que será tratado antes do descarte.
4. Recuperação de energia
A osmose reversa é um processo que exige muita energia. Para contornar esse desafio, as usinas modernas incorporam sistemas de recuperação de energia, como trocadores de pressão isobáricos, que reutilizam a energia presente na salmoura concentrada.
Esse reaproveitamento pode reduzir o consumo total de energia em até 50%, tornando a operação muito mais econômica e ambientalmente viável. Hoje, uma usina moderna consome entre 2,5 e 3,5 kWh por metro cúbico de água produzida.
5. Pós-tratamento
Após a filtragem e purificação, a água passa por um processo de remineralização, no qual são adicionados cálcio, magnésio e bicarbonato para ajustar o pH e melhorar o sabor. Também é feita a desinfecção com cloro ou radiação ultravioleta, garantindo que nenhum micro-organismo sobreviva.
A água final precisa atender aos parâmetros de potabilidade definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ou pelas agências reguladoras locais, como a EPA (nos EUA) ou a ANA (no Brasil).
Casos reais: onde a dessalinização já faz a diferença
Israel: referência mundial
O país é líder em dessalinização, com usinas como a Sorek I e II, que juntas produzem mais de 650 mil m³ por dia. Atualmente, cerca de 70% da água potável consumida em Israel vem do mar. Isso garantiu autossuficiência hídrica mesmo com clima semiárido.
Arábia Saudita e Emirados Árabes
Esses países utilizam grandes usinas térmicas e híbridas alimentadas por gás e energia solar. A usina de Ras Al-Khair, por exemplo, combina múltiplas tecnologias e abastece milhões de pessoas no Golfo Pérsico.
Califórnia (EUA)
A crise hídrica levou à construção da usina de Carlsbad, com capacidade de 190 mil m³ por dia. A usina reduziu a dependência dos reservatórios e aumentou a resiliência hídrica do estado.
Curiosidades que você provavelmente não sabia
- Em 2024, pesquisadores sul-coreanos criaram uma membrana de grafeno que filtra 99,9% dos sais com metade da pressão tradicional.
- Usinas flutuantes estão sendo testadas em Cingapura e Japão, com painéis solares sobre a estrutura.
- O exército dos EUA desenvolveu kits portáteis de dessalinização para uso em zonas de conflito e ajuda humanitária.
- O Chile, devido ao clima desértico do Atacama, já planeja conectar usinas de dessalinização à rede de mineração de cobre.
Desafios enfrentados pelas usinas de dessalinização
Apesar das vantagens, ainda existem barreiras que precisam ser superadas:
- Impacto ambiental: a salmoura descartada pode afetar a vida marinha se não for devidamente diluída e controlada.
- Custo: embora mais barata que décadas atrás, a dessalinização ainda custa entre US$ 0,60 e US$ 1,20 por metro cúbico — mais que fontes tradicionais.
- Manutenção e especialização: membranas exigem cuidados constantes, e o sistema depende de técnicos altamente qualificados.
O futuro da água é tecnológico e inteligente
A tendência é que as usinas de dessalinização se tornem mais acessíveis, modulares e autônomas. Projetos atuais já utilizam inteligência artificial para prever entupimentos, otimizar pressões e ajustar automaticamente as dosagens químicas.
Com a expansão das energias renováveis e políticas públicas voltadas à sustentabilidade hídrica, a expectativa é que até 2035 o custo da dessalinização caia pela metade, permitindo seu uso em comunidades carentes, regiões isoladas e em sistemas de abastecimento híbrido.
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Referências
Como funciona uma usina de dessalinização: tecnologia que transforma água do mar em potável
Fonte: Sydney Desalination Plant
Processo de dessalinização: como a água salgada vira potável
Fonte: TurnTo23 – ABC News
Eficiência na operação de usinas de dessalinização de água do mar
Fonte: Waterman Australia