Um verdadeiro fóssil vivo
O tubarão-da-Groenlândia (Somniosus microcephalus) habita as águas profundas e frias do Oceano Ártico e do Atlântico Norte. É uma criatura lenta, silenciosa e discreta — e talvez por isso tenha passado tanto tempo despercebida pela ciência.
O que mais chama atenção nesse animal não é seu tamanho, que pode chegar a mais de 6 metros de comprimento, mas sim sua extraordinária longevidade. Estima-se que esses tubarões possam viver entre 400 e 500 anos, sendo considerados os vertebrados mais longevos da Terra.

A descoberta científica
Em 2016, um estudo publicado na revista Science revelou ao mundo a impressionante idade desses animais. Por meio de datação por radiocarbono do cristalino ocular, cientistas analisaram o tecido dos olhos de fêmeas capturadas e constataram que uma delas havia nascido por volta de 1620.
Isso significa que esse tubarão nadava pelos mares durante o século XVII, quando Galileu Galilei ainda fazia observações astronômicas e a América do Sul ainda era colônia europeia.
O segredo da longevidade
A ciência ainda investiga quais fatores explicam essa impressionante capacidade de viver séculos, mas algumas pistas já foram levantadas:
Metabolismo extremamente lento
O tubarão-da-Groenlândia cresce cerca de 1 centímetro por ano. Seu metabolismo é um dos mais lentos entre os vertebrados, o que reduz o desgaste celular e desacelera o envelhecimento.
Habitat profundo e gelado
Vivendo a grandes profundidades e em temperaturas abaixo de 0°C, esses animais enfrentam menos predadores, menor incidência de doenças e menor necessidade energética.
Baixa atividade
Movem-se lentamente, com pouca agressividade, o que reduz acidentes, confrontos e consumo calórico. Inclusive, seu coração bate devagar e o ritmo corporal acompanha essa lentidão.
Alimentação e estilo de vida
Apesar de serem predadores, os tubarões-da-Groenlândia não são caçadores velozes. Alimentam-se de peixes, moluscos e animais mortos encontrados no fundo do mar. Alguns estudos identificaram restos de ursos polares e renas em seus estômagos, provavelmente de carcaças afundadas.
Essa dieta oportunista, associada à pouca competição em seu habitat, ajuda a manter seu organismo estável por séculos.
Mistérios ainda sem resposta
Mesmo com os avanços das pesquisas, o tubarão-da-Groenlândia continua envolto em mistério. Os cientistas ainda não sabem:
- Como ocorre sua reprodução.
- Qual o número real de filhotes por gestação.
- Se ele pode viver mais de 500 anos em condições ideais.
- Como sua biologia pode inspirar estudos sobre envelhecimento humano.
Uma espécie ameaçada
Apesar de viver em áreas remotas, essa espécie enfrenta riscos ambientais. A pesca acidental, a contaminação dos mares e as mudanças climáticas ameaçam seu habitat e sua sobrevivência.
Além disso, por atingir a maturidade sexual apenas aos 150 anos, sua taxa de reprodução é extremamente baixa — o que a torna especialmente vulnerável à extinção.
Conclusão
O tubarão-da-Groenlândia é mais do que um recordista de idade. Ele representa uma janela viva para o passado e uma oportunidade de entender como a vida pode evoluir de maneira quase atemporal. Seu metabolismo lento, seu modo de vida discreto e seu habitat extremo revelam soluções naturais surpreendentes para a longevidade.
Ele é, sem dúvidas, um dos maiores enigmas biológicos do planeta.
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Referências
Tubarões-da-Groenlândia podem viver até 400 anos – cientistas investigam os segredos de sua longevidade.
Fonte: Smithsonian Magazine
Uncovering unique metabolic pathways in the Greenland shark (Somniosus microcephalus).
Revelando vias metabólicas únicas no tubarão-da-Gronelândia (Somniosus microcephalus).
Fonte: bioRxiv
Estudo do metabolismo muscular revela como o tubarão-da-Gronelândia sobrevive por séculos.
Fonte: Interesting Engineering