O que são supercondutores e como funcionam?
Supercondutores são materiais capazes de conduzir corrente elétrica sem nenhuma resistência. Em outras palavras, quando um material entra em estado supercondutor, a eletricidade flui por ele indefinidamente, sem perdas de energia ou geração de calor. Esse fenômeno desafia o comportamento comum da física, onde qualquer condutor, mesmo o cobre, apresenta uma resistência mínima.
A descoberta da supercondutividade aconteceu em 1911, pelo físico Heike Kamerlingh Onnes, ao resfriar o mercúrio a temperaturas próximas do zero absoluto. Desde então, centenas de materiais já foram testados, mas todos exigem resfriamento intenso — o que torna seu uso prático muito limitado.

A promessa dos supercondutores de temperatura ambiente
O sonho de cientistas e engenheiros é tornar a supercondutividade viável em condições normais: temperatura ambiente e pressão atmosférica. Em 2020, um marco importante foi alcançado: um composto de hidrogênio, enxofre e carbono demonstrou comportamento supercondutor a 15 °C. No entanto, isso só ocorreu sob pressão extrema — cerca de 267 bilhões de pascals, maior que a encontrada no núcleo da Terra.
Portanto, ainda não é possível aplicar esse avanço no mundo real. O próximo passo é encontrar um material com a mesma propriedade, mas que funcione em ambientes acessíveis.
Por que os supercondutores são tão importantes?
Imagine um mundo onde não há perdas de energia nos cabos elétricos, onde trens se movem sem encostar nos trilhos, onde computadores são milhares de vezes mais rápidos. É isso que a supercondutividade pode proporcionar.
A cada ano, bilhões de dólares são desperdiçados em energia que se perde durante a transmissão elétrica. Com supercondutores de temperatura ambiente, essa perda seria eliminada. Isso reduziria custos, aumentaria a eficiência e abriria portas para tecnologias antes impossíveis.

Como os supercondutores mudariam o mundo?
Computadores do futuro
Processadores baseados em supercondutores operariam com velocidades imensas e sem aquecimento. Isso eliminaria a necessidade de sistemas de refrigeração complexos e abriria caminho para a computação neuromórfica e quântica em escala comercial.
Além disso, a inteligência artificial ganharia um impulso inédito. Com poder computacional tão alto e consumo energético tão baixo, seria possível criar simulações complexas do cérebro humano ou prever com precisão o comportamento de sistemas caóticos.
Redes de energia sem perdas
Hoje, uma média de 8% da energia elétrica gerada é perdida no trajeto até as residências e empresas. Com supercondutores, essa perda cairia para zero. Além disso, seria possível criar redes elétricas inteligentes, com energia sendo enviada dinamicamente conforme a demanda, em tempo real.
Os impactos econômicos e ambientais disso seriam enormes. Usinas poderiam reduzir sua produção, diminuindo a emissão de poluentes, e a energia limpa se tornaria ainda mais competitiva.
Transporte por levitação magnética
Trens Maglev já existem, como os do Japão e da China, mas seu custo elevado limita sua expansão. Isso acontece porque os supercondutores usados atualmente precisam ser mantidos em temperaturas criogênicas.
Com materiais operando em temperatura ambiente, esses custos cairiam drasticamente. Seria possível criar trens que flutuam sobre trilhos, alcançando velocidades de 600 km/h sem atrito. Além da velocidade, esses trens seriam silenciosos, seguros e de manutenção mínima.
Medicina e ciência avançadas
Os supercondutores são essenciais em equipamentos como o MRI (ressonância magnética) e aceleradores de partículas. Com materiais mais eficientes, esses dispositivos poderiam ser fabricados a custos muito menores, democratizando o acesso à medicina de ponta.
Na pesquisa científica, laboratórios como o CERN e universidades em todo o mundo usam campos magnéticos gerados por supercondutores para manipular partículas subatômicas. Tornar esse processo mais simples e barato pode levar a descobertas inesperadas.
Exemplos atuais de uso da supercondutividade
Mesmo com todas as limitações, os supercondutores já são usados em aplicações reais. Alguns exemplos:
- MRI (ressonância magnética): Usado em hospitais do mundo todo, esse equipamento depende da supercondutividade para gerar campos magnéticos fortes e estáveis.
- Trem Maglev de Xangai: Um dos poucos trens comerciais que usam levitação magnética para alcançar velocidades de até 430 km/h.
- CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear): Utiliza supercondutores em seus ímãs para guiar partículas em velocidades próximas à da luz.
Fatos curiosos sobre supercondutores
- Um anel supercondutor com corrente pode mantê-la circulando por anos sem perda alguma.
- Supercondutores repelem completamente os campos magnéticos. Esse efeito, chamado de Meissner, permite levitação magnética.
- Há materiais cerâmicos que se tornam supercondutores — o que é contraintuitivo, pois cerâmica geralmente é isolante.
- A supercondutividade também ocorre em alguns estados exóticos da matéria, como no interior de estrelas de nêutrons.
Os desafios científicos por trás da tecnologia
Apesar dos avanços, criar supercondutores que funcionem em temperatura ambiente e sem pressão extrema é um desafio científico de primeira grandeza.
As principais barreiras incluem:
- Estabilidade: Muitos materiais promissores se degradam rapidamente ao contato com o ar.
- Complexidade química: A estrutura necessária para permitir a movimentação livre de elétrons sem resistência é extremamente rara.
- Custo de produção: Alguns compostos exigem processos químicos caros, ou elementos escassos.
Além disso, é necessário compreender melhor os mecanismos quânticos que sustentam a supercondutividade para projetar materiais eficazes.
E se os supercondutores fossem realidade hoje?
Vamos imaginar um cenário hipotético em que, a partir de amanhã, supercondutores de temperatura ambiente estejam disponíveis no mercado:
- Indústrias energéticas trocariam imediatamente suas linhas de transmissão por cabos supercondutores, diminuindo perdas e custos.
- Empresas de tecnologia lançariam computadores com desempenho até mil vezes maior e consumo elétrico insignificante.
- Linhas de trem urbano poderiam ser trocadas por trens Maglev que flutuam sobre os trilhos, sem contato ou ruído.
- Hospitais de baixa renda teriam acesso a equipamentos de imagem médica de alta precisão, antes inviáveis.
O impacto seria tão grande quanto a invenção da internet ou da própria eletricidade. A produtividade aumentaria, os custos despencariam e novas aplicações surgiriam constantemente.

Qual seria o impacto ambiental?
A adoção em massa de supercondutores também ajudaria a combater o aquecimento global:
- A eficiência energética das cidades aumentaria exponencialmente.
- A energia solar e eólica poderia ser transmitida por longas distâncias sem perda.
- Veículos elétricos seriam mais eficientes, com motores compactos e duráveis.
- Menor necessidade de materiais como cobre e alumínio diminuiria o impacto da mineração.
Em resumo, seria uma tecnologia profundamente verde, reduzindo emissões e otimizando recursos naturais.
Qual o papel da física quântica nisso tudo?
A supercondutividade é um fenômeno quântico coletivo. Em vez de elétrons se moverem de forma aleatória, como ocorre em condutores comuns, eles formam pares (chamados de pares de Cooper) e se movem de forma ordenada, como uma onda gigante.
Esse comportamento só ocorre quando o material está em estado supercondutor — e entender exatamente por que isso acontece continua sendo um dos maiores enigmas da física moderna.
É por isso que avanços nesse campo também contribuem para nossa compreensão sobre o universo em níveis fundamentais.
Por que ainda não aconteceu?
Embora a mídia tenha noticiado diversas descobertas recentes, nenhuma delas passou nos testes práticos para aplicação em larga escala. Entre os motivos estão:
- Muitos dos resultados não foram reproduzidos por outras equipes;
- Alguns estudos foram posteriormente refutados ou retirados por inconsistência nos dados;
- As condições exigidas — como pressões gigantescas — ainda são impraticáveis fora de laboratório.
Ainda assim, a ciência avança. Universidades e empresas privadas continuam a investir pesado na corrida pelo “supercondutor ideal”.
Um futuro (quase) inevitável
A maioria dos especialistas acredita que supercondutores de temperatura ambiente vão existir — é só uma questão de tempo. E quando isso acontecer, o impacto será semelhante à invenção da lâmpada elétrica, do avião ou da internet.
Talvez a próxima grande revolução da tecnologia esteja mais próxima do que imaginamos.
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Referências
Nature – Room-temperature superconductivity in a carbonaceous sulfur hydride.
Fonte: Nature
O que são supercondutores e por que são tão importantes para o futuro da tecnologia?
Fonte: Live Science
A história dos supercondutores e os marcos científicos por trás da descoberta
Fonte: Metallurgy for Dummies