Quando o corpo fala por conta própria
Imagine viver com movimentos e sons que escapam do seu controle, surgindo do nada e sem aviso. Para quem tem síndrome de Tourette, essa é a realidade diária. Esse distúrbio neurológico raro, mas real, provoca tiques motores e vocais involuntários, interferindo na vida social, escolar e profissional das pessoas afetadas. Apesar de ser frequentemente retratada de forma cômica ou exagerada, especialmente na mídia, a Tourette é uma condição complexa, com causas multifatoriais e impacto emocional profundo. Hoje, vamos mergulhar nos detalhes científicos, curiosidades e histórias que revelam a verdadeira face dessa síndrome.
O que é a síndrome de Tourette?
A síndrome de Tourette é um distúrbio neurológico que se manifesta principalmente na infância ou adolescência, com tiques motores e vocais involuntários. Esses tiques são movimentos ou sons repetitivos que ocorrem fora do controle do indivíduo.
O nome da síndrome homenageia o médico francês Georges Gilles de la Tourette, que descreveu formalmente o transtorno em 1885. Desde então, pesquisas têm avançado na compreensão dessa condição, mas ainda existem muitos mitos sobre ela.
Entre os tiques mais comuns estão:
- Piscadas rápidas
- Caretas involuntárias
- Movimentos repetitivos dos braços ou ombros
- Grunhidos, tosses, fungadas
- Palavras fora de contexto ou repetitivas (inclusive palavrões, em alguns casos raros)
Esses sintomas variam em intensidade e frequência, podendo se agravar em momentos de estresse ou excitação.

Causas e fatores de risco da síndrome de Tourette
A origem exata da síndrome de Tourette ainda não foi totalmente esclarecida, mas sabe-se que ela envolve uma combinação de fatores genéticos e neurobiológicos.
1. Genética:
Estudos mostram que a Tourette tende a ocorrer em famílias, sugerindo um componente hereditário. No entanto, o padrão de herança não é simples: nem todos os portadores de genes associados desenvolvem a síndrome.
2. Alterações neurológicas:
Pesquisas apontam para disfunções nos circuitos cerebrais que envolvem os gânglios da base, tálamo e córtex frontal — áreas associadas ao controle motor e à regulação do comportamento.
3. Fatores ambientais:
Exposição pré-natal a toxinas, complicações no parto e infecções podem influenciar o surgimento ou agravamento dos tiques.
Sintomas além dos tiques
Embora os tiques sejam a característica mais visível da síndrome de Tourette, eles não são os únicos sintomas.
Sintomas associados:
- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
- Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)
- Ansiedade generalizada
- Distúrbios do sono
Essas comorbidades são tão comuns que, em muitos casos, causam mais impacto na qualidade de vida do que os próprios tiques.
Casos reais que marcaram a medicina
Tim Howard
Goleiro da seleção americana de futebol, Tim Howard foi diagnosticado com Tourette na infância. Apesar disso, teve uma carreira de sucesso, inclusive jogando na Premier League inglesa. Ele se tornou símbolo de superação e ativismo pela conscientização da síndrome.

Samuel Johnson
Famoso escritor britânico do século XVIII, Johnson apresentava tiques motores e vocais documentados por seus contemporâneos, sugerindo que sofria da síndrome, muito antes dela ser reconhecida pela medicina.
Um caso famoso e brasileiro: Dilera, o influencer com Tourette
No Brasil, um dos nomes mais conhecidos ligados à síndrome de Tourette é Bruno Aiub, mais conhecido como Dilera. Streamer e criador de conteúdo digital, Dilera ganhou projeção ao compartilhar, de forma autêntica e bem-humorada, sua rotina com tiques motores e vocais severos.
Durante suas transmissões ao vivo na Twitch, ele lida com episódios intensos de coprolalia — um dos sintomas mais raros da Tourette, que envolve a emissão involuntária de palavrões. Com mais de um milhão de seguidores, ele utiliza seu espaço para educar, desmistificar e quebrar preconceitos sobre o distúrbio.
Além do conteúdo de humor e jogos, Dilera frequentemente aborda temas sérios, como o impacto da síndrome na saúde mental, nos relacionamentos e nas atividades cotidianas. Sua visibilidade tem ajudado a ampliar o debate no Brasil e a oferecer representatividade para outras pessoas com Tourette, mostrando que é possível levar uma vida ativa, produtiva e cheia de significado, mesmo convivendo com um transtorno neurológico.

Fatos curiosos sobre a síndrome de Tourette
- Coprolalia (uso involuntário de palavrões) ocorre em apenas cerca de 10% dos casos. A mídia exagera essa característica, o que alimenta estigmas e preconceitos.
- A intensidade dos tiques pode diminuir com a idade. Muitos adultos relatam alívio parcial ou total dos sintomas após os 30 anos.
- Tiques podem ser suprimidos temporariamente. Mas essa supressão exige esforço mental e costuma causar desconforto físico e emocional.
- Fatores emocionais influenciam diretamente. Ansiedade, excitação e fadiga podem aumentar a frequência e intensidade dos tiques.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da síndrome de Tourette é clínico, feito com base na observação dos sintomas durante pelo menos 1 ano. Não existe um exame específico para confirmá-la.
Critérios diagnósticos incluem:
- Início antes dos 18 anos
- Presença de múltiplos tiques motores e pelo menos um vocal
- Persistência dos tiques por mais de 12 meses
Tratamento:
- Terapia comportamental (TCC):
A terapia de reversão de hábitos é eficaz para ensinar o controle gradual dos tiques. - Medicação:
Antipsicóticos, antidepressivos e outros medicamentos podem ser prescritos, dependendo da gravidade dos sintomas e da presença de comorbidades. - Apoio educacional e psicológico:
Ambientes escolares adaptados e suporte emocional fazem toda a diferença para a inclusão e desenvolvimento da criança com Tourette.
Vivendo com Tourette: o impacto social
Um dos maiores desafios enfrentados por quem tem a síndrome de Tourette é o julgamento social. Muitos sofrem bullying, são mal interpretados ou ridicularizados, o que afeta diretamente a autoestima.
Por isso, o conhecimento sobre a condição é essencial. Quando a sociedade entende a Tourette como uma condição neurológica e não como “frescura” ou “má educação”, cria-se um espaço mais acolhedor e justo para todos.
O que a ciência ainda busca entender
Apesar dos avanços, muitos aspectos da síndrome de Tourette ainda desafiam os pesquisadores:
- Quais mecanismos cerebrais exatos geram os tiques?
- Por que alguns sintomas desaparecem com a idade?
- Qual a melhor forma de personalizar os tratamentos?
Estudos com neuroimagem, genética avançada e inteligência artificial estão sendo usados para tentar prever a evolução da síndrome em diferentes pacientes.
Muito além dos tiques: um olhar mais humano
Reduzir a síndrome de Tourette aos tiques é ignorar a complexidade da experiência de quem convive com ela. Pessoas com Tourette enfrentam desafios reais, mas também têm vidas completas, talentos diversos e histórias inspiradoras.
Quando ampliamos o olhar e deixamos o preconceito de lado, abrimos espaço para mais empatia, inclusão e valorização da diversidade neurológica.
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Referências do texto e das imagens
Entendendo a síndrome de Tourette: sintomas, tratamento e causas
Fonte: Metropolis India
Reconhecendo a síndrome de Tourette: sinais e diagnóstico clínico
Fonte: Private Therapy Clinic
Síndrome de Tourette em adultos: o que observar e como lidar
Fonte: Lone Star Neurology
A síndrome de Tourette e o universo da marca Dilera
Fonte: Dilera