Quando foi registrado o primeiro recorde?
A ideia de quebrar recordes pode parecer um conceito moderno, associado a esportes olímpicos ou livros como o Guinness World Records. No entanto, o hábito humano de documentar feitos extraordinários é muito mais antigo do que se imagina. O primeiro registro conhecido de um recorde data de cerca de 2600 a.C., na antiga Mesopotâmia, considerada o berço da civilização.
Esse feito foi documentado em uma tabuleta cuneiforme descoberta na região da Suméria — mais especificamente na cidade de Ur, atual território do sul do Iraque. Trata-se de um marco histórico não apenas por ser o registro de um desempenho atlético, mas por inaugurar uma prática cultural que atravessaria milênios: a de imortalizar realizações humanas acima da média.
Qual foi esse primeiro recorde?
O feito descrito na tabuleta é o de uma corrida realizada durante festividades religiosas, uma tradição muito comum nas cidades-estado sumérias. Essas competições faziam parte dos rituais dedicados aos deuses locais, e os vencedores recebiam não só prestígio, mas também recompensas simbólicas e às vezes políticas.
Segundo o texto decifrado por arqueólogos e especialistas em línguas antigas, o recorde teria sido conquistado por um homem chamado Ur-Nammu, figura histórica importante que também é conhecido por ter sido rei e legislador da Terceira Dinastia de Ur. No entanto, antes de assumir o poder, Ur-Nammu parece ter se destacado como atleta em uma corrida cerimonial, conquistando o título de homem mais rápido de sua cidade naquela época.
Esse feito foi registrado com orgulho em uma tabuleta, utilizando o sistema de escrita cuneiforme, o mais antigo já criado, e simboliza o primeiro marco conhecido da tradição humana de valorizar feitos excepcionais.

A importância desse primeiro recorde registrado
O registro desse evento não deve ser subestimado. Ele representa muito mais do que uma simples corrida. O ato de documentar um desempenho notável mostra que os antigos já reconheciam o valor simbólico e social do esforço humano elevado à sua máxima expressão.
Registrar recordes servia para:
- Inspirar as gerações futuras, promovendo ideais de superação e excelência;
- Validar a justiça e a autoridade de líderes que também eram reconhecidos por suas virtudes físicas ou mentais;
- Preservar a memória coletiva, fazendo com que certos momentos e feitos ultrapassassem as barreiras do tempo.
Ao manter viva a lembrança desses momentos, as civilizações antigas pavimentaram o caminho para a institucionalização das competições esportivas, festivais e, mais tarde, os Jogos Olímpicos.
Como os recordes eram registrados na antiguidade?
Antes da invenção do papel e da impressão, as civilizações precisavam usar materiais disponíveis e duráveis para registrar eventos importantes. Os “livros de recordes” antigos tomavam diferentes formas, dependendo da cultura:
Tabuletas cuneiformes (Mesopotâmia)
Feitas de argila e gravadas com um estilete de madeira ou metal, as tabuletas continham símbolos que representavam sons ou ideias. Muitas dessas peças foram preservadas por milhares de anos, justamente por se tornarem resistentes ao fogo após serem secas ou cozidas.
Hieróglifos (Egito)
Os egípcios usavam hieróglifos entalhados em pedra ou pintados em papiros para registrar vitórias militares, feitos de faraós e eventos festivos. Embora mais associados a eventos políticos e religiosos, também há registros de conquistas atléticas em tumbas e monumentos.
Manuscritos antigos (Grécia, China, Roma)
Com o advento de suportes como o papiro, pergaminho e, mais tarde, o papel, civilizações mais recentes começaram a documentar feitos em textos mais acessíveis. Os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, por exemplo, tinham registros escritos de seus campeões, datas e modalidades.
O que motivava os primeiros registros?
Na antiguidade, o ato de registrar um feito não era apenas uma celebração momentânea. Era uma maneira estratégica de construir narrativas poderosas. Em sociedades como a suméria, egípcia e babilônica, onde o poder muitas vezes se associava a uma conexão divina, registrar feitos excepcionais tinha um propósito político e espiritual.
Por exemplo, quando um líder era apresentado como o homem mais veloz, mais forte ou mais sábio, isso não apenas aumentava sua reputação pessoal, mas também reforçava sua legitimidade como escolhido dos deuses ou como representante da ordem cósmica. Em muitas culturas, o desempenho físico era visto como reflexo da bênção divina ou da harmonia com as forças naturais.
Além disso, o registro impedia o esquecimento. Em tempos onde a tradição oral era dominante, a escrita se tornava um instrumento poderoso de imortalização. Gravado em pedra ou argila, um feito ganhava uma nova dimensão: a eternidade.
Recordes como demonstração de identidade cultural
Ao longo da história, diferentes civilizações desenvolveram formas únicas de registrar e celebrar recordes, muitas vezes ligados aos valores predominantes da sociedade. Enquanto os sumérios destacavam corridas cerimoniais, os egípcios valorizavam feitos construtivos — como levantar obeliscos gigantes ou mover blocos colossais para erguer pirâmides. Essas ações eram vistas como expressão da ordem (ma’at), um princípio fundamental da cultura egípcia.
Na China antiga, por sua vez, os registros imperiais mostravam interesse por feitos relacionados à longevidade, sabedoria e harmonia com o universo. Um sábio que meditava por décadas, um monge que vivia por mais de 100 anos ou um imperador que estabelecia paz por gerações eram vistos como detentores de recordes morais ou espirituais.
Nos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, as vitórias atléticas eram exaltadas em inscrições, poemas (como os épinícios) e esculturas. Um campeão olímpico podia ser homenageado com uma estátua, ter isenção de impostos vitalícia e ver seu nome registrado nos anais da cidade. Era um título que ultrapassava o mérito esportivo, tornando-se símbolo de honra coletiva.
A transição para a era moderna: da glória à competição organizada
Com o tempo, à medida que a escrita se popularizou e a imprensa surgiu, os registros deixaram de ser privilégio de elites sacerdotais e governantes. Já na Idade Média e no Renascimento, começaram a surgir crônicas que listavam feitos extraordinários — desde cavaleiros que venciam dezenas de adversários até construtores que levantavam catedrais em tempo recorde.
Na Revolução Científica, os recordes começaram a migrar para o campo da objetividade: qual era o telescópio mais potente? O navio mais rápido? A descoberta mais inovadora? A precisão passou a ser essencial, e os recordes passaram a ser medidos com base em dados e métodos mais confiáveis.
Com a Revolução Industrial, essa tendência se intensificou. O avanço tecnológico criou novas categorias de feitos humanos — e novas formas de documentá-los. Surgiram competições organizadas, como corridas de trem, testes de velocidade com automóveis e provas de resistência. O conceito de superação ganhou um ar de progresso e inovação.
Guinness World Records: uma nova era
Em 1955, o mundo testemunhou um marco na sistematização dos recordes: a primeira edição do Guinness Book of Records. Criado por Sir Hugh Beaver, então diretor da cervejaria Guinness, o livro surgiu da ideia de registrar, de forma organizada, os maiores feitos do mundo em diversas categorias.
Inicialmente uma ferramenta de marketing, o Guinness rapidamente se tornou um fenômeno global. Ao longo das décadas, passou a aceitar recordes cada vez mais inusitados — de conquistas científicas a habilidades excêntricas. O que antes era tradição oral, tabuleta ou papiro, agora se transformava em páginas ilustradas, sites e eventos televisionados.
O Guinness democratizou os recordes. Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, podia se candidatar a um feito e entrar para a história. Isso representou uma mudança cultural significativa: o recorde deixou de ser prerrogativa de reis, heróis ou atletas olímpicos e passou a pertencer ao cidadão comum.
O futuro dos recordes: biotecnologia, inteligência artificial e espaço
O que nos espera nas próximas décadas é uma nova geração de recordes. Com o avanço da biotecnologia, é possível que vejamos humanos batendo recordes de longevidade, inteligência aumentada e resistência física jamais vista. A inteligência artificial já é capaz de realizar cálculos em frações de segundos que levariam séculos para humanos — e esses feitos também estão sendo documentados.
Na exploração espacial, o futuro é ainda mais promissor. A missão mais longa em Marte, o maior número de satélites lançados de uma só vez, a primeira base permanente fora da Terra — todos esses feitos já estão sendo catalogados como marcos recordistas de nossa civilização.
Seja com argila e estilete, seja com algoritmos e satélites, o desejo de registrar a superação humana permanece. E, ao que tudo indica, continuará por muitos milênios ainda.
Outros registros históricos curiosos
Além do primeiro recorde conhecido, existem muitos outros registros históricos interessantes:
- O recorde de maior tempo sem piscar.
- A maior biblioteca do mundo – Quantos livros ela abriga?
- O maior número de idiomas falados por uma pessoa.
Para mais informações sobre recordes fascinantes ao longo da história, visite o site oficial do Guinness World Records.
Conclusão
O registro mais antigo conhecido de um recorde, datado de cerca de 2600 a.C., mostra como a humanidade sempre teve fascínio por feitos excepcionais. Documentar esses feitos tornou-se uma tradição cultural importante, permitindo que gerações futuras conhecessem e admirassem grandes conquistas humanas.
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