Tardígrado microscópico, também chamado de urso-d’água, caminhando sobre musgo verde.

Conheça os tardígrados

Minúsculos, resistentes e quase imortais, os tardígrados intrigam cientistas há séculos. Esses animais microscópicos conseguem sobreviver a condições que exterminariam qualquer outro ser vivo, desde o vácuo do espaço até temperaturas extremas. Descubra neste artigo o fascinante universo dessas criaturas conhecidas como “ursos-d’água”.

Os ursos-d’água e sua fama de indestrutíveis

Quando falamos em sobreviventes da natureza, geralmente pensamos em grandes predadores ou espécies adaptadas a ambientes extremos. Mas os verdadeiros campeões da resistência são quase invisíveis: os tardígrados. Também chamados de “ursos-d’água”, esses animais microscópicos suportam situações que desafiam os limites da vida.


O que são os tardígrados e onde vivem

Pertencem ao filo Tardigrada e foram descritos pela primeira vez em 1773 pelo zoólogo Johann August Ephraim Goeze. Pouco depois, em 1777, o naturalista italiano Lazzaro Spallanzani os nomeou de “tardígrados”, expressão em latim que significa “caminhantes lentos”. Apesar do nome, sua importância científica tem sido tudo, menos lenta.

Esses animais medem entre 0,1 e 1,5 milímetro e só podem ser observados com ajuda de microscópios. Seu corpo é composto por oito patas curtas com garras, que lembram a força de pequenos ursos, daí o apelido “ursos-d’água”.

O habitat é incrivelmente diversificado. Eles vivem em musgos úmidos, líquens, sedimentos marinhos, lagos, solos áridos e até geleiras. Essa adaptabilidade garante sua presença em quase todos os ambientes da Terra. Mas o que mais impressiona é a criptobiose, estado em que reduzem quase todo o metabolismo, permitindo que sobrevivam a condições mortais para qualquer outro organismo.

Este tardígrado, visualizado por microscópio eletrônico de varredura, tem menos de 0,1 milímetro de diâmetro

A ciência por trás da resistência extrema

Os tardígrados suportam pressões seis vezes maiores do que as do fundo da Fossa das Marianas, além de temperaturas que vão de -272 ºC até acima de 150 ºC. Essa resiliência os torna campeões da sobrevivência.

A vida em “tun”

Quando desidratados, retraem o corpo, formando uma estrutura chamada tun. Nesse estado, podem viver décadas sem água ou alimento. Estudos relatam tardígrados que “despertaram” após mais de 30 anos em criptobiose.

Experimentos espaciais

Em 2007, a Agência Espacial Europeia levou tardígrados a bordo da missão FOTON-M3. Eles foram expostos ao vácuo, radiação solar e cósmica. Para surpresa geral, muitos voltaram vivos e férteis. Foi a primeira vez que animais sobreviveram diretamente ao espaço sideral sem proteção.

Proteínas únicas

Pesquisas recentes identificaram no DNA dos tardígrados a proteína DSup (Damage Suppressor), que protege o material genético contra danos da radiação. Essa descoberta abre caminhos para novas terapias médicas, como proteção celular durante tratamentos de câncer com radioterapia.


Curiosidades e fatos surpreendentes sobre os tardígrados

  • Quase imortais: em condições naturais podem viver poucos anos, mas em criptobiose a vida pode se estender por décadas.
  • Testemunhas da história: fósseis indicam que já existiam há mais de 500 milhões de anos, sobrevivendo a todas as extinções em massa.
  • Diversidade reprodutiva: algumas espécies se reproduzem sexuadamente; outras utilizam partenogênese, dispensando machos.
  • Ecologicamente relevantes: mesmo microscópicos, participam do equilíbrio dos ecossistemas, alimentando-se de células vegetais, bactérias e pequenos invertebrados.
  • Possível DNA híbrido: algumas pesquisas sugeriram que até 17% do DNA poderia ter origem em outros organismos, embora essa hipótese ainda seja debatida.

A história das descobertas científicas

Desde a primeira descrição, os tardígrados despertaram curiosidade. No século XIX, cientistas já relatavam sua resistência ao congelamento. Porém, foi no século XX que experimentos mais controlados confirmaram sua incrível adaptação.

Durante a Guerra Fria, pesquisas em radiobiologia mostraram que os tardígrados suportavam doses letais de radiação que destruiriam humanos instantaneamente. Esse interesse militar e científico impulsionou os estudos sobre sua biologia única.

Hoje, universidades de todo o mundo mantêm colônias de tardígrados para compreender melhor sua genética e aplicações práticas.


Importância ecológica dos ursos-d’água

Apesar de minúsculos, eles têm papel essencial nos ecossistemas. Eles contribuem para a decomposição de matéria orgânica e participam da cadeia alimentar de microrganismos. Além disso, sua presença em ambientes extremos os torna bioindicadores, ajudando cientistas a monitorar mudanças ambientais, especialmente em regiões polares e de alta montanha.


Aplicações científicas e tecnológicas

O estudo dos tardígrados ultrapassa a simples curiosidade. Ele pode impactar diretamente a vida humana:

  • Medicina: proteínas como DSup podem levar a terapias de proteção celular contra radiação.
  • Exploração espacial: entender sua biologia pode inspirar técnicas para proteger astronautas em missões de longa duração.
  • Criogenia: a capacidade de resistir à desidratação extrema levanta discussões sobre conservação de tecidos e órgãos humanos para transplantes.
  • Biotecnologia agrícola: pesquisas investigam se genes dos tardígrados podem aumentar a resistência de plantas à seca.

Debates e mistérios científicos

Apesar dos avanços, muitos enigmas permanecem. Como conseguem reparar o DNA danificado de forma tão eficiente? Até onde vai sua resistência no tempo? E será que organismos parecidos poderiam existir em outros planetas?

Essas perguntas fazem dos tardígrados protagonistas não apenas da biologia, mas também da astrobiologia, ciência que estuda a possibilidade de vida fora da Terra.


A incrível lição dos ursos-d’água

Mais do que curiosidades, os tardígrados representam um lembrete poderoso: a vida é resiliente. Esses seres microscópicos mostram que até os ambientes mais hostis podem ser vencidos com adaptação. Do fundo do oceano ao espaço sideral, eles nos ensinam que a sobrevivência depende de flexibilidade e inovação.


Continue explorando criaturas surpreendentes

Gostou de conhecer os tardígrados? Então explore mais conteúdos da categoria Animais. Veja também: A eletricidade nas enguias, Animais com esqueleto externo, Animais de ácido extremo, Formigas: organização e guerra e Animais que adotam filhotes.


Referências do texto e das imagens

  • National Geographic – fatos e características gerais.
    Fonte: National Geographic
  • National Geographic – como sobrevivem ao vácuo do espaço.
    Fonte: National Geographic
  • NASA – Water Bears in Space: como resistem a condições extremas.
    Fonte: NASA
  • Scientific American – Por que são quase indestrutíveis.
    Fonte: Scientific American
  • Scientific American – Fósseis revelam quando eles se tornaram resistentes.
    Fonte: Scientific American
  • IFLScience – Como sobrevivem a condições extremas.
    Fonte: IFLScience

Copyright © 2025 Curiosidade Ilimitadas. Todos os direitos reservados.