Um cérebro acordado e dormindo ao mesmo tempo?
A ideia de alguém andar pela casa, abrir portas ou até mesmo cozinhar — tudo isso dormindo — pode parecer coisa de filme. No entanto, esse fenômeno é real e mais comum do que muitos imaginam. O sonambulismo é um dos distúrbios mais intrigantes do sono, despertando tanto a curiosidade popular quanto o interesse científico. Mas o que acontece no cérebro de uma pessoa que realiza tarefas complexas enquanto dorme?

O que é sonambulismo?
Sonambulismo e o funcionamento do sono profundo
O sonambulismo (ou parassonia do despertar) é classificado como um distúrbio do sono que ocorre durante o sono não REM, mais especificamente nas fases 3 e 4 do sono profundo. Durante esse estágio, o corpo deveria estar em total repouso, mas no sonâmbulo, algumas áreas do cérebro permanecem ativas — principalmente aquelas ligadas ao movimento.
Enquanto isso, as áreas responsáveis pela consciência e raciocínio continuam adormecidas. O resultado? Um corpo capaz de se mover, mas sem controle consciente.
Esse desequilíbrio cerebral costuma durar alguns minutos, mas pode, em casos extremos, durar até meia hora ou mais.
Casos reais de sonambulismo extremo
Histórias surpreendentes que desafiam a lógica
Existem diversos relatos de ações impressionantes realizadas durante episódios de sonambulismo:
- Dirigir enquanto dorme: Uma mulher americana chamada Lee Hadwin ficou famosa por desenhar obras de arte enquanto dormia. O mais intrigante? Acordada, ela nunca demonstrou interesse por arte.
- Homicídio dormindo: Em 1987, Kenneth Parks, do Canadá, dirigiu 23 km até a casa dos sogros, cometeu um crime grave e só percebeu o que havia acontecido ao se entregar à polícia — tudo isso, segundo especialistas e a própria justiça, enquanto estava em um episódio profundo de sonambulismo.
- Tarefas domésticas: Há relatos documentados de pessoas que lavam a louça, cozinham refeições completas e até organizam armários — tudo isso dormindo.
Esses exemplos extremos levaram cientistas a estudar profundamente os mecanismos neurológicos por trás do sonambulismo.

O que acontece no cérebro de um sonâmbulo?
O conflito entre sistemas cerebrais
Durante um episódio de sonambulismo, o cérebro entra em um estado híbrido: áreas como o córtex motor e o cerebelo, responsáveis por movimentos e coordenação, se ativam, enquanto o córtex pré-frontal (que gerencia o raciocínio lógico, julgamento e autoconsciência) permanece inativo.
Esse tipo de “despertar incompleto” é o responsável pelas ações complexas e, ao mesmo tempo, pela ausência de memória do episódio.
Além disso, o sistema nervoso autônomo do sonâmbulo costuma estar hiperativo, o que explica comportamentos físicos intensos como levantar-se rapidamente da cama ou caminhar com desenvoltura.
Fatores de risco e causas do sonambulismo
Genética, estresse e estímulos ambientais
Estudos mostram que o sonambulismo tem forte componente genético: filhos de pais sonâmbulos têm até 60% mais chances de apresentarem o distúrbio.
Outros fatores incluem:
- Estresse físico ou emocional
- Apneia do sono
- Febre alta (principalmente em crianças)
- Privação de sono
- Uso de medicamentos sedativos ou hipnóticos
- Estímulos como barulho ou toque durante o sono profundo
Curiosidades sobre sonâmbulos
O que dizem os estudos e o folclore
- Não se deve acordar um sonâmbulo? Mito. Embora ele possa ficar desorientado, acordá-lo com cuidado é melhor do que deixá-lo se machucar.
- É mais comum em crianças: Verdade. Até 15% das crianças entre 4 e 12 anos apresentam episódios de sonambulismo.
- Pode durar a vida toda: Embora a maioria supere o distúrbio na adolescência, adultos também podem ter episódios ocasionais.
- Tem ligação com epilepsia: Em casos raros, pode haver relação entre sonambulismo e certos tipos de crises noturnas.
- Não há cura definitiva: Mas medidas como higiene do sono, terapia cognitiva e medicamentos ajudam a reduzir a frequência.
Por que algumas pessoas realizam tarefas tão complexas?
O fenômeno está ligado à ativação seletiva de áreas do cérebro que controlam habilidades aprendidas. A repetição de ações rotineiras (como cozinhar ou escovar os dentes) faz com que o cérebro as execute automaticamente, mesmo em estado parcial de vigília.
Quanto mais automática a tarefa, mais provável que ela possa ser realizada durante um episódio de sonambulismo. Já ações que exigem decisões complexas são mais raras — mas não impossíveis, como demonstram casos judiciais extremos.
Cuidados e tratamentos para sonâmbulos
Como agir e quando buscar ajuda médica
Para evitar acidentes, recomenda-se:
- Trancar portas e janelas
- Evitar beliches e objetos cortantes no quarto
- Manter uma rotina de sono regular
- Reduzir o estresse antes de dormir
Em casos frequentes ou perigosos, é essencial procurar um médico do sono. Exames como a polissonografia podem ajudar a entender o distúrbio e definir o melhor tratamento.
Um distúrbio entre o sono e a vigília
O sonambulismo continua sendo um mistério parcialmente decifrado pela ciência. Ele mostra como o cérebro humano é capaz de operar em modos híbridos — consciente e inconsciente — permitindo ações complexas sem qualquer lembrança. Embora possa parecer assustador, com os devidos cuidados, a maioria dos casos não representa risco grave.
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Referências
National Sleep Foundation – Sleepwalking: Causes and Treatments
Fonte: National Sleep Foundation
The Sleep Doctor – Dr. Michael Breus
Fonte: The Sleep Doctor
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Fonte: Healthline