Vênus é o segundo planeta do sistema solar e possui a atmosfera mais densa entre os planetas rochosos – Fonte: NASA SVS

Marte vs Vênus: destinos extremos no sistema solar

Dois planetas vizinhos, mas destinos opostos. Vênus virou um forno tórrido, enquanto Marte congelou. O que causou tamanha diferença? Descubra as razões científicas que transformaram esses mundos em extremos — e o que isso revela sobre os riscos que a Terra pode enfrentar no futuro.

A luta dos planetas: caminhos opostos

Embora Marte e Vênus sejam os vizinhos planetários mais próximos da Terra, os destinos que tomaram não poderiam ser mais diferentes. Ambos começaram com características semelhantes — tamanho, estrutura rochosa, possíveis oceanos no passado — mas, ao longo de bilhões de anos, suas atmosferas e climas tomaram rumos extremos. Entender essas trajetórias nos ajuda a compreender os limites da habitabilidade e o delicado equilíbrio da Terra.

Marte, o planeta vermelho
Marte, o planeta vermelho – Fonte: New Scientist

Marte vs Vênus – uma comparação inicial

Ambos são planetas terrestres, compostos principalmente de rochas e metais. Composicionalmente semelhantes à Terra, eles pertencem ao grupo dos chamados “planetas telúricos”. No entanto, quando olhamos para suas características atmosféricas, climas e históricos geológicos, as semelhanças desaparecem.

O planeta vermelho, por exemplo, tem um diâmetro de cerca de 6.800 km e uma massa de aproximadamente 10% da massa da Terra. Seu solo é coberto por óxidos de ferro, o que lhe dá a cor avermelhada tão conhecida. Já o planeta vizinho mais brilhante é quase gêmeo da Terra em tamanho, com 12.100 km de diâmetro, e massa de 81% da terrestre. Porém, é envolto por uma espessa camada de nuvens tóxicas e atmosfera extremamente densa.

Composição atmosférica

  • O mundo gelado: atmosfera extremamente rarefeita, composta por cerca de 95% de dióxido de carbono, 2,7% de nitrogênio e 1,6% de argônio. Possui traços de oxigênio e vapor d’água. Essa fina atmosfera não consegue reter calor, o que explica suas baixas temperaturas.
  • O mundo tórrido: também com atmosfera predominantemente de dióxido de carbono (96,5%), mas com 3,5% de nitrogênio e traços significativos de ácido sulfúrico nas nuvens. Essa combinação é altamente eficaz para o efeito estufa.
Atmosfera de Marte
Atmosfera de Marte captura pelo Rover – Fonte: Nasa Science

Temperaturas e pressão

  • No planeta mais frio, a temperatura média é de -63 °C, podendo chegar a -125 °C nos polos. A pressão atmosférica é de cerca de 600 Pa (0,6% da terrestre).
  • No planeta mais quente, a temperatura é constante em torno de 462 °C, tanto no lado diurno quanto noturno. A pressão na superfície é de cerca de 9.200 kPa (92 vezes a da Terra).

Esses contrastes ajudam a ilustrar como fatores climáticos e geológicos moldaram ambientes extremos a partir de condições potencialmente semelhantes.


O que levou o planeta vermelho a se tornar um deserto gelado?

Atmosfera rarefeita e perda de calor

A gravidade reduzida teve papel crítico. Por ter apenas 38% da gravidade terrestre, esse planeta não conseguiu reter uma atmosfera densa. A ausência de um campo magnético global fez com que sua atmosfera ficasse vulnerável ao vento solar, que gradualmente varreu suas camadas superiores. Missões como a MAVEN (Mars Atmosphere and Volatile EvolutioN), da NASA, demonstraram que essa perda atmosférica é contínua, ainda que lenta.

Traços de água

Análises feitas por rovers como Spirit, Opportunity, Curiosity e Perseverance mostraram evidências de leitos de rios antigos, minerais que só se formam na presença de água e deltas sedimentares. Isso indica que esse planeta teve um ciclo hidrológico ativo no passado. Mas sem pressão suficiente para manter a água no estado líquido e sem uma atmosfera para isolá-la, ela se perdeu no espaço ou congelou no subsolo.

Além disso, estudos sugerem que a maior parte da água que existiu pode estar presa em minerais do subsolo marciano. A presença de sais hidratados e a possibilidade de lagos subterrâneos mostram que ainda há muito a ser descoberto sobre o ciclo da água neste planeta.

Clima e estações

Este planeta possui estações semelhantes às da Terra, mas são mais longas devido à sua órbita mais extensa ao redor do Sol (687 dias terrestres). As diferenças térmicas entre dia e noite são extremas, chegando a variações de 100 graus em poucas horas.

Além disso, tempestades de poeira globais podem durar semanas e cobrir o planeta inteiro, reduzindo ainda mais a capacidade de retenção de calor e obscurecendo a superfície. Essas tempestades influenciam o clima marciano de forma significativa e ainda são objeto de estudo constante.


Vênus, o inferno da pressão e calor

Efeito estufa descontrolado

Vênus é o exemplo mais extremo de efeito estufa do sistema solar. A luz solar entra pela atmosfera, mas não consegue sair, presa pelo CO₂ e pelas nuvens. Isso cria uma estufa gigantesca, aquecendo todo o planeta de forma constante. Mesmo sendo o segundo planeta mais próximo do Sol, é mais quente que Mercúrio, que é o primeiro.

Estudos sugerem que Vênus pode ter tido oceanos em sua juventude, mas a intensificação do efeito estufa fez com que toda a água evaporasse. O vapor d’água, por sua vez, é um gás de efeito estufa ainda mais potente, criando um ciclo de retroalimentação fatal.

Vulcanismo intenso

Estudos indicam que o segundo planeta do sistema solar pode ter tido vulcanismo ativo até recentemente. A missão Magellan da NASA mapeou grandes planícies vulcânicas. Novas missões, como a VERITAS, visam identificar se esses vulcões estão ativos atualmente. O vulcanismo contribuiu para a emissão de CO₂, potencializando ainda mais o efeito estufa.

Além disso, há indícios de atividade geológica recente, como alterações em superfícies e detecção de elementos que sugerem erupções ocorridas nas últimas centenas de anos, algo raro fora da Terra.

Nuvens de ácido sulfúrico

As nuvens do planeta brilhante são compostas principalmente de gotículas de ácido sulfúrico. Elas impedem a visão direta da superfície e são altamente reflexivas, o que faz com que o planeta tenha um brilho intenso no céu da Terra. No entanto, essas nuvens são altamente tóxicas e impossibilitam a sobrevivência de vida como conhecemos.

A composição dessas nuvens também é um dos fatores que impedem a entrada de sondas por longos períodos, pois os equipamentos precisam ser extremamente resistentes à corrosão.

Ilustração da atmosfera de Vênus
Ilustração da atmosfera de Vênus – Fonte: Sky at Night Magazine

Fatos curiosos sobre os dois planetas

  • Dia em Vênus: um dia solar dura 117 dias terrestres, enquanto um dia sideral (rotação completa) dura 243 dias terrestres.
  • Duas luas geladas: Fobos e Deimos, pequenas e irregulares, possivelmente asteroides capturados.
  • A maior montanha do sistema solar: Olympus Mons, com 22 km de altura.
  • Sem satélites naturais: o planeta mais quente não tem luas.
  • Pôr do sol azul: no planeta frio, isso ocorre devido à dispersão da luz pela poeira fina na atmosfera.

Marte vs Vênus e a Terra no meio

Zona habitável e sorte cósmica

A Terra se encontra na chamada zona habitável, onde a temperatura permite a existência de água líquida. Se estivesse um pouco mais distante, poderia ser um deserto como o planeta vermelho. Um pouco mais perto, e enfrentaria condições semelhantes ao planeta escaldante.

Simulações planetárias

Modelos computacionais mostram que, mesmo se o mundo frio estivesse na órbita do quente, sua massa e gravidade seriam insuficientes para manter uma atmosfera protetora. Já a Terra, nessa mesma posição, entraria em efeito estufa em poucas centenas de milênios.

A ausência do campo magnético

Tanto o mundo escaldante quanto o congelado carecem de campos magnéticos globais ativos. Isso os deixa vulneráveis ao vento solar. A Terra, por outro lado, é protegida por sua magnetosfera, essencial para manter a atmosfera e proteger a vida.

A presença de um núcleo líquido e em movimento gera o campo magnético terrestre, algo que nem Marte nem Vênus conseguem manter atualmente, o que demonstra a importância dessa proteção natural.


O que esses planetas nos ensinam

Os extremos representados por esses dois mundos — um que perdeu sua atmosfera e congelou; o outro que a reteve em excesso e se tornou um forno — mostram como a Terra permanece em um raro ponto de equilíbrio. Compreender a evolução desses vizinhos planetários é também entender os riscos que enfrentamos.

A exploração futura desses corpos celestes, especialmente com missões tripuladas e sondas autônomas, pode revelar novos dados sobre o destino planetário e, possivelmente, sobre as condições para vida em outros mundos.

Além disso, muitos cientistas acreditam que estudar essas trajetórias planetárias nos ajudará a interpretar sinais de exoplanetas distantes, ampliando nossas chances de encontrar mundos potencialmente habitáveis em outras partes da galáxia.

Estamos no equilíbrio entre extremos

Enquanto Marte congelou e Vênus derreteu, a Terra segue em um equilíbrio delicado e raríssimo. Esses dois planetas extremos são mais que curiosidades astronômicas — são espelhos do que pode acontecer quando certos limites naturais são ultrapassados. Estudá-los não é apenas uma forma de entender o universo, mas uma chance de refletir sobre a fragilidade do nosso próprio planeta.

As decisões que tomamos hoje, principalmente no campo ambiental, podem definir se continuaremos sendo uma exceção privilegiada ou se entraremos na rota de Marte ou Vênus.


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Referências

NASA – Mars Exploration Program
Fonte: NASA

European Space Agency – Venus Express
Fonte: ESA

Referências de imagens

Fatos sobre Marte
Fonte: NASA Science

Descobertas de água em Marte: onde ela pode estar
Fonte: New Scientist

Fatos sobre Vênus
Fonte: NASA Science

Animação da atmosfera de Vênus
Fonte: NASA SVS

Atmosfera de Vênus: composição, nuvens e clima
Fonte: Sky at Night Magazine

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