Mais que doces e coelhos
Muito mais do que uma época de ovos de chocolate, essa celebração milenar guarda significados religiosos, culturais e históricos profundos. A cada ano, milhões de pessoas ao redor do mundo comemoram com tradições que variam conforme a cultura, mas compartilham a ideia de renovação. Conheça a seguir 10 fatos surpreendentes que mostram como essa festividade é cheia de camadas e simbolismos pouco conhecidos.
1. Um nome com raízes antigas
A palavra “Páscoa” vem do hebraico Pessach, que significa “passagem”. Na tradição judaica, marca a libertação do povo de Israel da escravidão no Egito. Já no cristianismo, representa a ressurreição de Cristo e a vitória da vida sobre a morte. Em ambos os contextos, a palavra está relacionada a mudanças profundas, à superação de desafios e ao início de um novo ciclo.
Esse simbolismo foi se misturando com tradições pagãs da primavera, que também celebravam a renovação da natureza após o inverno. O cruzamento entre diferentes crenças deu origem a uma celebração multifacetada que evoluiu com o tempo e se espalhou por diversas regiões do mundo.
2. Os primeiros ovos eram de verdade
Muito antes da popularização do chocolate, as pessoas já trocavam ovos na Páscoa — ovos de galinha cozidos e pintados. Esses presentes representavam fertilidade e novos começos, especialmente nas festas da primavera europeia. Em muitas culturas antigas, acreditava-se que o ovo era o início da vida.
Durante a Idade Média, os cristãos começaram a usar ovos decorados para simbolizar o túmulo vazio de Cristo. O chocolate entrou na tradição apenas no século XIX, quando os primeiros ovos comestíveis começaram a ser fabricados por confeiteiros franceses e alemães. Com o tempo, os ovos de chocolate se tornaram os grandes protagonistas das vitrines e das comemorações familiares.

3. Coelhos e fertilidade: uma conexão simbólica
O coelho foi escolhido por ser um animal altamente reprodutivo, símbolo de fertilidade nas antigas celebrações pagãs da primavera. A figura se tornou parte da tradição pascal após a chegada de imigrantes alemães aos Estados Unidos, que difundiram a história do coelho que esconde ovos coloridos nos jardins.
Nos séculos seguintes, a imagem do coelho ganhou destaque em ilustrações infantis, embalagens e propagandas comerciais. Atualmente, é impossível imaginar a Páscoa sem a presença desse animal, que representa a multiplicação da vida, o renascimento e a chegada de tempos melhores.
4. Na Austrália, o coelho é substituído
Como os coelhos são considerados pragas no ecossistema australiano — por causarem erosão do solo e competirem com espécies nativas —, a população adotou o bilby, um marsupial nativo de orelhas longas, como alternativa. O animal passou a ser símbolo da celebração e é até representado em chocolates vendidos no lugar dos tradicionais coelhinhos.
A substituição tem também um caráter educacional e de preservação ambiental. As vendas dos “bilbies de chocolate” ajudam a financiar programas de proteção ao animal, reforçando a ideia de que a celebração também pode promover conscientização ecológica.

5. Bruxas, doces e rituais no norte da Europa
Na Finlândia e na Suécia, crianças se fantasiam de bruxas e saem pelas ruas pedindo doces. Elas entregam cartões decorados em troca de guloseimas e desejam bênçãos às famílias. A prática mistura elementos cristãos com lendas antigas do folclore escandinavo, que falam de espíritos vagando na transição do inverno para a primavera.
Essa tradição lembra o Halloween, mas ocorre no contexto pascal. Em algumas regiões, as crianças também carregam galhos decorados com penas coloridas — símbolo da chegada da estação florida. É uma das expressões mais curiosas da data.
6. Ovos Fabergé: arte e luxo na celebração
Na Rússia imperial, os czares encomendavam ovos de joias para presentear familiares durante a Páscoa. Criados por Carl Fabergé, esses objetos decorativos escondiam miniaturas em seu interior e tornaram-se símbolos de luxo e requinte.
Cada ovo Fabergé era único, feito com metais preciosos, pedras raras e surpreendentes mecanismos internos. Embora não tivessem ligação direta com o cristianismo, esses presentes representavam o espírito festivo da corte russa. Hoje, muitos deles estão em museus e coleções privadas, sendo considerados verdadeiras obras de arte.

7. O evento oficial no gramado da Casa Branca
Nos Estados Unidos, a Casa Branca realiza desde 1878 o “Easter Egg Roll”, em que crianças participam de uma brincadeira rolando ovos no jardim presidencial. O evento tradicional combina entretenimento, valores familiares e reforça o sentido de comunidade em torno da data.
Além da corrida de ovos, o evento costuma contar com leituras de histórias, música ao vivo e a presença do coelhinho da Páscoa. É uma forma leve e educativa de manter viva a tradição entre as gerações mais novas.

8. Omelete coletiva na França
Na cidade de Bessières, no sul da França, a segunda-feira pós-Páscoa é marcada pela preparação de uma omelete gigante feita com mais de 15 mil ovos. A origem da tradição remonta ao período napoleônico, quando Napoleão Bonaparte saboreou uma omelete local e pediu uma versão ampliada para alimentar seus soldados.
Desde então, a omelete virou um símbolo de união, fartura e celebração. Preparada em uma frigideira gigante ao ar livre, é distribuída gratuitamente para a população, reunindo moradores e turistas em uma refeição comunitária.
9. Uma data que nunca é a mesma
Diferente do Natal, que tem data fixa, a Páscoa é móvel. Ela acontece no primeiro domingo após a primeira lua cheia do equinócio de primavera no hemisfério norte. Esse cálculo astronômico significa que a data pode variar entre 22 de março e 25 de abril.
A fórmula foi estabelecida no Concílio de Niceia, no século IV, e reflete a tentativa de harmonizar tradições religiosas com os ciclos da natureza. Essa mobilidade também afeta o calendário de outras celebrações, como o Carnaval e a Quaresma.
10. Diversidade nos rituais pelo mundo
- Polônia: baldes de água são jogados como símbolo de purificação e alegria.
- Grécia: pratos de cerâmica são quebrados no chão para afastar energias negativas.
- Reino Unido: pãezinhos doces com cruz (hot cross buns) são partilhados na Sexta-Feira Santa.
- Etiópia: fiéis fazem um jejum rigoroso de 55 dias até o domingo de ressurreição.
Esses rituais mostram como uma mesma celebração assume formas diferentes, adaptadas aos costumes e às crenças locais.
Páscoa e comércio
Ao longo do século XX, o aspecto comercial da data cresceu significativamente. O feriado se tornou uma das épocas de maior consumo de doces, especialmente o chocolate, além de estimular a venda de brinquedos, roupas e itens temáticos.
Apesar disso, em muitas famílias, a essência espiritual e afetiva da celebração continua sendo o foco. As refeições compartilhadas, os momentos de reflexão e as tradições herdadas mostram que nem tudo gira em torno do consumo.
Influência na gastronomia
Além dos famosos ovos doces, diversos países contam com pratos típicos da celebração. No Brasil, é comum o consumo de peixes, especialmente bacalhau, na Sexta-Feira Santa. Na Itália, a colomba pascal simboliza paz e renascimento. Já no Reino Unido, os hot cross buns têm raízes religiosas e são encontrados em padarias por toda a primavera.
Expressão artística da renovação
A Páscoa também aparece na arte, na música e na literatura. Autores cristãos e seculares utilizaram o tema da ressurreição como metáfora para superações pessoais, ciclos de vida e recomeços. Em muitas culturas, danças e cantos marcam o encerramento do período de jejum e o início de dias mais leves e celebrativos.
Muito mais do que doces
Esta celebração milenar é repleta de elementos que atravessam gerações. Cada povo a interpreta de forma única, mantendo viva a essência da transformação. Ao conhecermos essas curiosidades, ampliamos nosso olhar sobre uma das datas mais simbólicas e universais do mundo.
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Referências
BBC Newsround – origem do coelho da Páscoa na Alemanha do século XVIII e seu simbolismo de nova vida.
Fonte: BBC Newsround
Britannica – história, tradições e significado da celebração da Páscoa.
Fonte: Britannica
White House Historical Association – tradição do “Easter Egg Roll” na Casa Branca e sua importância cultural.
Fonte: White House History
National Geographic – evolução do coelho da Páscoa e outras tradições do feriado ao redor do mundo.
Fonte: National Geographic – Easter Bunny
National Geographic – o coelho da Páscoa na Austrália e a substituição pelo bilby como símbolo nativo.
Fonte: National Geographic – Bilbies
National Geographic – festival francês da omelete gigante de Páscoa, que celebra a união e a fartura.
Fonte: National Geographic – Giant Omelette
The Guardian – origem da expressão “Páscoa” e seu vínculo com antigas celebrações sazonais.
Fonte: The Guardian
Smithsonian Institution – ovo de Páscoa histórico feito de vidro prensado nos EUA no século XIX.
Fonte: National Museum of American History
Italy Magazine – história e simbolismo da Colomba di Pasqua, o pão doce em forma de pomba tradicional da Páscoa italiana.
Fonte: Italy Magazine
Sightseeing Experience – receita original e significado cultural da Colomba di Pasqua.
Fonte: Sightseeing Experience
BBC Newsround – como diferentes países celebram a Páscoa com tradições únicas e regionais.
Fonte: BBC Newsround
Britannica – história dos ovos Fabergé e sua associação com a Páscoa e a arte imperial russa.
Fonte: Britannica – Fabergé egg
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